Está frio. Talvez o tempo não esteja tão frio quanto o frio que eu estou sentindo. Mas está frio. Aqui é gelado. Tem um edredon e três cobertores sobre meu corpo, mas tudo que eu sinto é o vento gelado que passa na direção do meu rosto. Sempre durmo sentindo o gelado no rosto. Sempre.
Tudo é sempre igual por aqui. As conversas se repetem, os sons se repetem, os cheiros se repetem, as ações se repetem, as pessoas se repetem, os sentimentos se repetem. As cores, as coisas, a comida, os livros, as ideias. Tudo é sempre severamente igual. O mesmo marasmo da vida de todo dia.
Estranho pensar que tudo isso que sempre pareceu certo, natural, de repente não faz mais o menor sentido. É como se alguém batesse na porta, pegasse o roteiro antigo e entregasse outro. Seguirei outro roteiro agora. Procurarei o quente. Até não fazer mais sentido.
Ou talvez eu jogue o roteiro fora. E procure algo diferente. Algo que não faça sentido nenhum. Nunca.