Wednesday, December 23
Relato de uma ex-loira
Fiquei loira depois que terminei um relacionamento típico de novela mexicana(...). Eram muitas mudanças. Talvez por isso, senti aquela louca vontade de mudar a aparência. Como morro de medo de cortar os cabelos (não conte a ninguém!) eu fiz umas mechinhas que me deixaram loira.
Apesar da pele e cabelos claros, não me reconheci no espelho quando me vi pela primeira vez com aquelas luzes na cabeça! (...)fui convencida a ficar com o novo look por um tempo. Claro que me acostumei! E gostei tanto que segui loira. Até (...) quando tive um novo surto, fui ao salão e escureci meus cabelos.
Dessa vez não me assustei. Aliás, no primeiro dia estava me sentindo a Alzira e seria capaz de dançar pole dance e tudo, se eu tivesse um Juvenal mais novo que o Antônio Fagundes, claro! Como não tinha, fui desfilar minhas novas madeixas noite afora, não só para testar a reação dos amigos, mas para ver se realmente as loiras fazem mais sucesso que as morenas.
Foi difícil me arrumar. Achava que minhas roupas não combinavam com a cor dos meus cabelos e que meu batom cor de boca não realçava minha pele. Confesso que não sou do tipo que anda com maquiagem na bolsa e só sai de casa com batom, mas com meus olhos verdes reluzindo feito faróis precisavam de menos destaque. Coisa de mulherzinha. E não vou perder mais tempo explicando, porque quem é mulher entende bem e quem é homem nunca vai entender! Achei um vestido e um batom que combinassem com o cabelo e lá fui eu.
Se os homens preferem as loiras eu não sei precisar, mas sei que as cantadas que passei a receber são com-ple-ta-men-te diferentes da que recebia com as mechas oxigenadas. Confesso que isso me deixa mais encabulada ainda quanto ao raciocínio masculino, pois embora continue a mesma, passei a ser linda ao invés de gostosa.
As cantadas passaram a ser mais sutis e românticas. Elogiam meus olhos. Mandam bilhetes. Pode ter sido só uma questão de sorte, admito, mas até agora não escutei nenhuma daquelas cantadas chulas, nojentas e deprimentes que alguns homo sapiens babaquis costumam dizer quando passam uma mulher na rua. Se continuam dizendo, eu não estou ouvindo. Não dizem que pequenas mudanças transformam as pessoas? Vai ver a tinta atingiu os tímpanos e fiquei um pouco surda! Estou aberta (ops!) a todo tipo de interpretação. Inclusive, a de que fiquei horrorosa morena e que só me chamam de linda na ausência de uma loiraça belzebu para darem uma cantada.
Uma amiga que nem viu meu novo cabelo chegou a dizer que independente da coloração, minha alma é de paquita. Com medo de saber o que isso significa, nem perguntei. Mas a maioria que viu, aprovou. O que não tem muita importância, já que eu, a dona da cabeleira castanhíssima, estou me sentindo. Não sei por quanto tempo, já que tenho sonhado que lavo os cabelos e a cor luz de sol volta a aparecer.
Por não fazer mais parte do time das descoloridas, preciso desabafar: essa mania de achar que toda loira é fútil, burra e fácil, que de certa maneira, se reproduz até nas investidas que os homens se atrevem a dar, é ridículo. Claro que não mudei a cor dos cabelos por causa disso. Para ser sincera, até poucos dias atrás, eu achava que todas as cantadas eram iguais! Agora, tingida, eu vejo que no imaginário masculino todas as loiras são Marilyn Moores, Madonnas ou sonham em dançar no tchan.
Desse conhecimento empírico, tirei uma lição importante: se quer um comportamento diferente do homem, mude sua cabeça. Não entenda tudo errado! Não estou mandando ninguém raspar os cabelos para que o homem veja sua beleza interior, fique morena do dia para noite para ser considerada mais inteligente (ou menos burra!), ou passe a descolorir os cabelos para ser considerada sexy. Ou estou, se acha que irá se sentir bem com você mesma. Estou sugerindo, isso sim, mudar a cor da sua cabeça e não os cabelos que estão em cima dela. Os homens e suas cantadas, assim, como a vida, têm a cor que a gente pinta.
Por Idiotilde no livro "Mulé é um bicho burro mermo".
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