Ele acordou no horário. Às 7 da manhã seu despertador tocou, como sempre, e ele acordou. Pensou no enorme sentimento de solidão em que se encontrava. Aquilo realmente o incomodava todas as manhãs. Mas também pensou que não adiantava ficar pensando naquilo, e iniciou sua rotina matinal: Lavou o rosto, escovou os dentes, enfim, fez todas essas coisas que todos fazem pela manhã. Tomou café-da-manhã com café, um sanduíche e uma fatia de bolo. Depois tomou um banho e se arrumou. Finalmente estava pronto para a aula.
Seu professor do primeiro período era um chato, irritado como se não tivesse mulher. Por isso, para não se atrasar nem um minuto e entrar na aula as oito em ponto, ele tinha calculado o tempo exato que demorava para se arrumar e comer, além do percurso de ônibus da parada principal, que era perto de sua casa, até a parada final, obviamente onde era sua aula.
Era rotina. Como previsto, às 7h20 ele entrou no ônibus. Isso também era rotina. Pegando esse ônibus ele corria menos riscos de se atrasar, além de poder viajar sentado. Sentou na frente, em um banco dos idosos. E passou a pensar, novamente, no enorme sentimento de solidão em que se encontrava. Apesar de o ônibus estar lotado. Rotina.
Agora eram 7h35. O ônibus parava em outra parada qualquer e aquela que seria a mulher da sua vida se aproximava.
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Ela acordou atrasada, como sempre. Às 7h20, deu um pulo da cama, pois seu relógio biológico sabia que algo estava errado. Ficou com de si mesma, pois mais uma vez desligou o despertador ao invés de ativar a função soneca.
Mal jogou uma água no rosto, mal escovou os dentes, mal fez todas as coisas que todos fazem pela manhã. Foi para a cozinha tomar um rápido copo de leite com chocolate. Enquanto tomava o leite, pensou no enorme sentimento de solidão em que se encontrava. Aquilo realmente a incomodava todas as manhãs, mesmo quando estava atrasada. Então saiu correndo para pegar o primeiro ônibus que fosse em direção à faculdade.
Normalmente ela entraria no ônibus que passa ao lado de sua casa, às 7h20. Normalmente ela não tinha tanta pressa. Normalmente ela não saia correndo eufórica atrás do primeiro ônibus que passasse, mas dessa vez ela tinha prova e não poderia se atrasar. Chegou na parada 7h30 e perdeu o ônibus que passava. Já que tinha que esperar pelo próximo, andou até outra parada, pensando, novamente, no enorme sentimento de solidão em que se encontrava.
Agora eram 7h35. A porta do ônibus abriu-se à sua frente e ela se aproximava daquele que seria o homem da sua vida.
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E se ela não tivesse desligado o despertador?
E se ela não tivesse prova?
E se ela não tivesse perdido o ônibus das 7h30?
E se ela não tivesse caminhado até a outra parada?
E se o professor dele não fosse chato em relação aos atrasos dos alunos?
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Só havia um único banco vazio em todo o ônibus. Era vermelho e não havia nenhum idoso. Faltou pouco, muito pouco para ela sentar lá. Ele até encolheu suas pernas ao notar alguém se aproximando, mas a cidadania dela falou mais alto e ela desistiu. Deu um sorrisinho de agradecimento ao menino que recolheu as pernas e parou na direção contrária. Ficou em pé, perto da roleta, pois desceria antes do ponto final.
Ele tentou retribuir o sorriso, mas ela já estava de costas. Desistiu e voltou a esticar as pernas. Ela foi pro fundo do ônibus. Ele cochilou.
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Ainda bem que, por um acaso, o professor dele descobriu que sua mulher dormia com seu amigo e teve um treco.
Ainda bem que, por um acaso, sobrou para ele levar o professor no ambulatório da faculdade.
Ainda bem que, por um acaso, esse ambulatório era do lado da sala de aula dela.
Ainda bem que, por um acaso, o professor dela se atrasou.
Ainda bem que, por um acaso, ela ficou na frente da sala estudando para a prova.
Ainda bem que, por um acaso, eles se olharam e se reconheceram.
2 comments:
ah, adorei esse! esses acasos na nossa vida!
eu bem que queria um Ainda bem que, por um acaso, desses.
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